Quem nunca numa viagem não viu os seus planos saírem furados e na hora da verdade não saber muito bem como se virar? Pois bem que foi isso que nos aconteceu no dia em que supostamente iríamos de comboio de Viena a Praga numa viagem um tanto ou quanto atribulada…

À partida o nosso último dia em Viena não seria minimamente interessante, tínhamos reservado passagem de comboio para Praga por volta da hora do almoço pelo que dedicamos o resto da manhã a visitar algumas ruas e fazer umas comprinhas (ahhh os chocolates Mozart…).

Há hora marcada lá nos dirigimos para a estação com as nossas malas e uma marmita para a viagem de várias horas e embarcámos naquele comboio que nunca chegou ao seu destino nesta mini aventura que vos tento reproduzir.

Entrámos numa cabine de 6 lugares onde já lá estava uma senhora sentada e rapidamente percebemos que aquele espaço seria só para nós os 3 quando na porta constavam os nossos nomes mais o da dita senhora. Excelente, estava quentinho e tínhamos espaço suficiente para nos pormos à vontade, abrimos malas e retiramos roupa, saíram os sapatos e os mil casacos vestidos, fizemos um piquenique ali mesmo, um lia um livro o outro ouvia musica, ainda tentamos falar com a senhora mas o inglês dela não dava para muito e lá se descosia com alguns sorrisos.

Entretanto o comboio chega a uma estação e fica parado, algumas pessoas saíram, e o comboio manteve-se parado uma hora, algo estranho estava a acontecer, a nossa “amiga” também pouco mais sabia que nós e só nos restava esperar. Ao fim de cerca de 2 horas de estar parado entra na cabine o revisor e fala qualquer coisa incompreensível  e a senhora pega na sua malinha e vai-se embora!!!! Mantivemo-nos ali sentados com o nosso estendal ainda montado quando se dá o seguinte discurso:

– Olha lá! Está tudo a ir-se embora do comboio, a mulher também saiu, isto está qualquer coisa errada?!!!
– ‘Tá nada, as pessoas estão a sair porque deve ser a estação delas e isto está parado aqui porque as vezes eles tiram ou metem outras carruagens, não stress … 
Nisto entra de novo o revisor e fala qualquer coisa em checo, com um tom mais severo e sai.
– Isto está a acontecer alguma coisa, está tudo ali na estação acho melhor arrumarmos isto tudo porque não sei o que se passa!!!!
Chega novamente a senhora ao compartimento e diz:
– Train …. a problem!
E estas foram as últimas palavras que se conseguiu compreender nas várias horas que se seguiram. Saímos do comboio e juntamo-nos a multidão que se encontrava na plataforma, caía um nevão como nunca vira na vida, um homem gritava em checo e nós sem perceber absolutamente nada, informações ninguém nos fornecia, não sabíamos onde estávamos nem porque nos tinham mandado sair do comboio. Irracionalmente aproximamo-nos de um casal de japoneses tão desorientados quanto nós. A multidão começou a sair da estação a caminho do centro de uma aldeia pequena, com neve até ao joelhos. Começaram a chegar uns bus e as pessoas entravam, mas estes eram poucos para tanta gente. Chegou um e fomos a correr na sua direcção, para onde iria não fazia a mais pequena ideia, mas entrei com a mala, disse ao motorista Praha (Praga) ele nada disse e o bus começou a andar, cerca de duas horas por entre vales cheios de neve, rios congelados, aldeias sem se ver ninguém. A neve teimava em continuar a cair, assim como continuávamos sem saber absolutamente nada do que se passava.
Não sei ao certo quanto tempo passamos naquele bus, até que pára no largo de uma aldeia e sai toda a gente, em frente um edifício, que se parecia com uma estação, para onde nos dirigimos e uma mulher apontava para o exterior na suas traseiras. seria outro comboio? Não, nada se encontrava além de neve e a linha do comboio. Nisto as pessoas descem para a linha e começam a caminhar sobre ela, fizemos o mesmo com extrema dificuldade com a mala  aos trambolhões na linha férrea e a neve a chegar até meio da perna. Encontrámos então um hangar com um comboio para onde com extrema dificuldade as pessoas tentavam subir mas as pernas não alcançavam o primeiro degrau pois não havia plataforma. O comboio começou a andar, perguntei a uns velhotes se o seu destino era Praga e disseram que sim. Finalmente!!!

 

Eis o famoso comboio que nunca chegou ao seu destino

Durante a viagem conhecemos ainda um espanhol rastafari com algum mau aspecto, que andava a vaguear pela Europa de Leste à boleia e quase sem dinheiro, ia a caminho de Praga ter com uma amiga que lhe daria abrigo até arranjar voo  para regressar a Portugal para conhecer o sobrinho que tinha nascido!!  Ao fim de várias horas lá chegamos quase de madrugada a Praga depois de vários telefonemas do hotel preocupados por não termos aparecido, trocámos de numero de telefone com o nosso novo amigo e após algum dificuldade em descobrir como haveríamos de chegar ao hotel, lá demos com ele com um quarto enorme só para nos os 2 bem perto de um restaurante baratinho e com internet gratis!!!!
E desta forma o dia mais chato da nossa viagem se tornou numa aventura que jamais esquecerei, a nossa atribulada chegada à cidade de Praga.