Quando planeámos a nossa viajem a Roma era ponto chave que os Museus do Vaticano não poderiam ficar fora dos nossos planos, primeiro porque já havíamos tentado visitar noutra viagem sem sucesso e porque, acima de tudo, estava na nossa lista de desejos. Não é à toa que os museus recebam mais de 6 milhões de visitantes, pois são casa de uma enorme colecção de arte capaz de agradar até os gostos mais exigentes.

Nessa manhã acordámos bem cedo, lá pelas 6h, e ainda cheios de energia rumámos ao Vaticano para a longa jornada cultural que nos aguardava. Enquanto aguardamos com (im)paciência a nossa entrada vamos conhecendo um pouco da sus história, chamam-se museus porque são um conjunto de galerias, museus, salas, bibliotecas e por aí vai, conectados uns aos outros que foram um dos maiores e mais ricos conjuntos museológicos do Mundo.

Foi só no ano de 1503 que depois do Papa Júlio II ter adquirido uma estátua romana de mármore de Laocoonte e os seus filhos e a ter exposto no palácio que a paixão pelo coleccionismo foi crescendo e desde essa data que outros Papas, nobres e pessoas influentes foram contribuindo para a numerosa colecção que hoje é exposta, praticamente todos (senão todos) os grandes nomes das artes das história mundial têm alguma peça exposta por isso é fácil imaginar o acervo dos Museus do Vaticano e porque estávamos tão entusiasmados em os conhecer, nós e mais milhares de pessoas.

Um par de horas depois duma fila de espera interminável e termos despachado a mochila para o bengaleiro confesso que não nos foi fácil orientar por lá, os Museus do Vaticano já de si sempre cheios de gente naquele dia que eram gratuitos estavam um verdadeiro caos, já sem paciência para esperar por um audio-guia (valha-nos a internet) optamos pelo percurso completo, pois o outro oferecido apesar de mais curto passa longe das mais belas salas. Um das curiosidades destes museus é que têm um serviço de correios próprio no qual podemos enviar uma carta para casa com o selo papal, foi precisamente o que fizemos e enviamos para casa uma benção postal!!

É praticamente impossível aos comuns mortais saber todos os museus que fazem parte do conjunto e às páginas tantas perdemos um pouco o fio à meada contudo outros são tão espetaculares que fazemos até um apontamento para não nos esquecermos, é o caso do Museu Gregoriano Egípcio, fundado em 1839 com uma acervo dedicado à arte do Antigo Egipto onde podemos estar cara a cara com antigas múmias e as colossais estátuas de antigos deuses e faraós.

Seguindo a cronologia e o mar de gente nas salas entramos na arte clássica, o Museu Chiaramonti expõe mais de 800 obras de arte grega e romana ao longo de salas e pátios espetaculares que roubam a atenção das esculturas espetacularmente concebidas à tantos séculos atrás!

Felizmente, e ao contrário do que pensávamos, os Museus do Vaticano proporcionam espaços ao ar livre que além de também exporem algumas obras são uma delicia para refrescar a alma e o corpo. O mais conhecido é o famoso Pátio da Pinha onde está exposta uma enorme pinha representativa da fé cristã (estava em restauro e tapada com andaimes) e uma obra contemporânea chamada sfera con sfera num frondoso relvado.

Quanto mais nos vamos aprofundando pelos corredores mais nos apercebemos da incurável riqueza que o minúsculo Estado do Vaticano possui, testemunho disso são os decorados tetos e tapeçarias da Galleria degli Arazzi que foram as primeiras decorações da capela Sistina.

Falando em exuberância e luxo são os aposentos do Papa Pio V que tão bem retratam a forma faustosa como os lideres da igreja viveram ao longo dos séculos (e a bem da verdade ainda vivem).

Nas Salas da Imaculada Conceição onde vemos frescos de 1854 que retratam a a Coroação da Virgem Maria por Pio IX são o a introdução perfeita para o conjunto de salas e corredores intermináveis que ainda nos esperam visitar.

Não bastasse a ostentação os Museus do Vaticano parece que não nos param de surpreender e após uma pausa para um café e descansar as pernas somos envolvidos por um novo mundo. Diante de nós estende-se um interminável corredor de 120 metros que alberga a famosa Galeria dos Mapas, mandado edificar por Gregório XIII vários artistas pintaram frescos das diversas propriedades papais, é interessante ver como representavam o Mundo naquela época e descobrir pequenos detalhes nas suas pinturas. Sabemos que vai ser difícil observar os mapas com atenção pois aqui o fluxo de visitantes é intenso mas aproveitem a onda e olhem para o espetacular teto abobadado, maravilhoso e digno de um belo torcicolo!

E porque não espiar os pecados de luxuria e aproveitar o espaço sagrado e rezar na impressionante capela de Urbano VIII ricamente decorada com tetos e frescos de cortar a respiração?

Começa-se a aproximar o final da visita, ainda que faltem muitas salas até à saída, e os salões mais importantes começam a ser revelados, aqueles que levam tantos turistas a visitar este complexo, não temos a certeza mas ficamos com a sensação que as visitas têm ponto de encontro nesta parte dos museus pois o fluxo de turistas adensa-se ainda mais o que torna praticamente impossível ver mais do que os magníficos tetos.

Uma passagem pelo exterior conduz-nos às mais espetaculares salas, entramos nos impressionantes Quartos de Rafael. O Papa Julio II depois de ter conhecido o famoso pintor Rafael decidiu contrata-lo para pintar 4 quartos que serviram de aposentos privados do mesmo, os frescos demoraram 16 anos a serem concluídos e o próprio Rafael não os viu concluídos pois a sua morte fez com que os seus discípulos terminassem o trabalho, escusado será dizer que se retratam cenas bíblicas nas suas paredes e tetos, mas sem duvidas a mais impressionante é a Escola de Atenas onde o artista pintou os grandes filósofos gregos da antiguidade e um auto-retrato!

Se ainda vos restarem forças é nesta altura que devem preparar as emoções e a paciência pois mesmo no final da visita os Museus do Vaticano guardam o seu maior tesouro, é o momento de entrar na fabulosa Capela Sistina! Provavelmente toda a gente já ouviu falar dela e viu pelo menos uma das imagens mais irónicas do planeta, Deus a criar Adão mas nada nos prepara para a conhecer ao vivo.

 

Lugar onde se realizam os conclaves e se escolhem os Papas é a capela do Palácio Apostólico e foi mandada reconstruir pelo Papa Sisto IV, entre os anos de 1508 e 1512 os mais renomados artistas da Renascença como Rafael, Perugino e Botticielli decoraram as suas paredes, mas o famoso teto e altar que retiram o génesis e o juízo final ficaram a cargo de Michelangelo. O conjunto é uma obra impressionante, de cortar a respiração, a altura dos frescos escondem os pequenos detalhes que pedem uma demorada visita, um padre pede silencio ao microfone neste espaço sagrado mas as ondas de turistas não lhe prestam atenção, as fotografias são proibidas e há guardas espalhados pela multidão numa tentativa vã de pôr ordem naquele espaço sagrado que mais parece uma feira!

Confesso que a foto acima foi tirada por mim aproveitando uma onda de turistas que acabara de entrar e levou o guarda para longe mas a beleza do lugar é impressionante e vale aproveitar a rara oportunidade de estar debaixo de uma das obras primas da história e retratar na memória esse momento único.

Sabemos que muito ficou por visitar nestes gigantescos museus mas ao fim de 6 horas a percorrer os seus corredores e salas o corpo pedia descanso e um almoço reforçado. Despedimo-nos dos Museus do Vaticano pela sua famosa escada em espiral ricamente trabalhada com a sensação que um dia teremos de voltar e que cada momento dentro das suas paredes ficará marcada para a vida, por algum motivo são um dos museus mais importantes do Mundo?!