O nosso percurso pela ilha de Santiago levava-nos ao outro extremo da ilha mas sem antes passarmos pela Serra da Malagueta que é o ponto mais alto da ilha que nos brindou com uma manhã de neblina e um frio que parecia uma manhã de inverno em Portugal.

A próxima paragem foi na famosa Prisão do Tarrafal. Localizada na localidade de Chão Bom esta colónia prisional criada pelo Estado Novo em Abril de 1936 com o objectivo de afastar prisioneiros políticos problemáticos da metrópole.

Após o fosso do portão de entrada somos dominados pelo silencio. O vasto recinto verdejante das recentes chuvas é salpicado por meia dúzia de pavilhões que correspondiam às valências e dependências do complexos, entre elas a cozinha, os banheiros, as celas e como não podia faltar a solitária!

No centro do recinto destaca-se um pavilhão de cor rosada que se denominava como Posto de Socorro, contudo ao que parece tal local não era propriamente dedicado aos cuidados de saúde como afirmava o médico Esmeraldo Pais Prata que aqui trabalhou em 1936: “Não estou aqui para curar, mas para passar certidões de óbito”.

Continuando a visita demos de caras com a “Holandinha” ou “Frigideira” o terror das solitárias. A solitária da prisão não era mais do que um cubo de betão com pouco mais de 4 metros quadrados com uma janela minúscula, virada para o sol onde eram encarcerados vários presos expostos ao calor sufocante daquele sol, ficando isolados durante semanas e até meses. Desafiei a claustrofobia e entrei durante uns momentos e com cabeça baixa e porta fechada o calor tornou-se insuportável.

Em 1954 devido à grande pressão internacional foi encerrado o complexo que reabriu em 1960 aquando se deu o inicio das guerras pela independência das antigas colónias portuguesas em África. Acabou por encerrar por completo em 1974 quando se deu o fim da ditadura Salazarista e o fim do longo império português.

Já fora dos portões existe um muito pequeno Museu da Rebelião que conta em poucas palavras e imagens os horrores que aconteceram dentro daqueles muros. A visita à prisão apesar de um pouco perturbadora agradou-nos bastante, fez-nos conhecer um pouco mais dos horrores que Portugal vivia há pouco mais de 40 anos.

Nas redondezas a vida decorria como sempre, calma e serena. Rodeados de crianças lá nos afastamos daquele lugar de más recordações em busca do Tarrafal paradisíaco.