Nesta nova realidade em que vivemos (e que ainda não consigo processar) decidimos viajar por Portugal e acabar na mais querida e etnográfica aldeia do nosso país, a Aldeia – Museu de José Franco.
Se para muito faz parte do seu imaginário de infância (como eu) para ainda mais é uma verdadeira pérola desconhecida na localidade do Sobreiro, entre Mafra e a Ericeira, ou seja mesmo às portinhas de Lisboa.
Mas antes de falar da obra há que conhecer o autor e certamente estarão a perguntar quem era o Mestre José Franco? Nascido na pobre localidade do Sobreiro em 1920 filho de um sapateiro e de uma vendedoura de louças de barro o jovem Franco foi-se sentindo atraído pela arte de moldar o barro e dele criar arte, aprendendo aos 17 anos o ofício com 2 mestres locais e lançando-se na vida por conta própria restaurando a antiga olaria do seu avô.
Pelos anos 60 teve a brilhante ideia de com a sua mestria recriar na sua propriedade o pequeno e muito rico mundo rural de Portugal na época da sua infância e assim surgiu a conhecida aldeia típica de José Franco. Na sua mente estavam destinados 2 espaços, um com recriações fidedignas de casas, ofícios e modo de vida daquela época com recreações fiéis e repletas de objectos reais utilizados antigamente. Na aldeia também seriam recreados outros ambientes em miniatura fazendo das pequena aldeia um mundo rico de detalhes.
Em criança lembro-me de lá ter ido um par de vezes, de estar sentado ao lado do Mestre e até ter feito uma flôr de barro que ofereci depois à minha mãe. 30 anos depois José Franco já lá não estava, nem eu com aquele ar de anjinho barroco rebelde mas o resto permanecia nos mesmos lugares, as mesmas casas, os mesmos bonecos o mesmo sentimento, foi viajar 2 vezes no tempo, viajei para um Portugal rural e pobre que tive uns vislumbres de conhecer e viajei dentro de mim, das minhas memórias de me estar a ver ali criança de cabelos aos caracóis loiros e de sentir que absolutamente nada tinha mudado… emocionei-me!
Ainda hoje é possivel ver como aquelas pequenas preciosidades são feitas, pelas mãos de outro mestre, e sentir que mergulhámos no Portugal saloio, despreocupado, atarefado nos seus pequenos trabalhos de campo na religião e na bela gastronomia.
É ser criança novamente e entrar em todas as portas, espreitar todas as janelas e descobrir como viviam os nossos antepassados, como era o dentista, o ferreiro, a mercearia, a igreja, a escola e até mesmo a taberna. E já que falamos de taberna aproveitem e comam um pão com chouriço (divinal) e um copo de vinho da região.
A quantidade de detalhes é imensa e os objectos guardados ao longo de décadas ilustram na perfeição o modo de vida de outros tempos, as figuras essas já sofrem com o peso da idade mas isso só lhes dá ainda mais autenticidade.
Por entre a pequena aldeia ainda somos brindados com uma aldeia em miniatura tão repleta de detalhes quanto a sua irmã maior, com casinhas e recantos e figuras que desempenham funções do dia-a-dia accionados pela força da água!
Numa fase posterior foi adicionado à aldeia uma área ajardinada rodeada pelas muralhas de um castelo, com o respectivo coreto e charretes para animar de miúdos a graúdos. A Aldeia de José Franco ficou-me na memória desde a infância e foi um prazer enorme voltar a entrar nos seus portões e certamente é um passeio que merece bem a visita que irá agradar crianças até aos avós.